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Que semelhança pode haver entre a bela e suntuosa Veneza, seus canais que transportam milhares de turistas todos os anos, seus prédios seculares e a modesta Jaguaribe, no recôncavo baiano, a menos de duas horas de Salvador?
Em Veneza, tudo parece mágico e encanta. A paisagem contemplada de qualquer ponto, seja de um vaporeto, seja de uma gôndola, é de extasiar. E em Jaguaribe, nem tanto. Não existem canais, embora a cidade seja a beira mar. Mas, afinal, o que há de semelhante?
A semelhança não arremete a nada de belo. Quando muito a história. Uma história de dor e sofrimento, de uma espécie de câmara de tortura onde nem os mais fortes conseguiam resistir mais de 30 dias de suplício, compulsoriamente banhados pelas águas do mar, enquanto suas últimas forças se esvaiam.
Em Veneza, o endereço do sofrimento pode ser contemplado da lendária Ponte dos Suspiros. Dali era possível testemunhar os derradeiros suspiros dos condenados, enclausurados em celas parcialmente submersas, que eram quase que totalmente cobertas pelas águas nos dias de maré alta, matando afogados os infelizes prisioneiros.
Não se sabe se a pequena Jaguaribe copiou o modelo da histórica Veneza, mas a cadeia pública da cidade, então denominada Cadeia do Sal, tinha no seu porão algumas celas que eram invadidas diariamente pelas águas do mar, para infortúnio e desespero dos infelizes condenados, os considerados mais perigosos, ali confinados.
E junto com a água que lhes cobria os corpos vinham peixes, moluscos, caranguejos e outros animais marinhos que os atacavam, muitos devorando ainda vivos ou deixando grandes cicatrizes.
Ficavam acorrentados de forma a impossibilitar qualquer tentativa de fuga. E de lá só eram retirados já agonizantes ou mortos.
O velho prédio que arremete a uma história de barbárie é hoje sede da Prefeitura. As celas, naturalmente, foram desativadas, mas seguem possíveis de serem visitadas.
Uma visita macabra, mas acessível a quem desejar mergulhar nesse poço da história do Brasil no século passado.