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Baianas de Acarajé carregam segredos seculares

Publicado em: 20/11/2024
Por: Adilson Fonsêca
Atenção: Caso qualquer das fotos que ilustram essa matéria seja de sua autoria nos informe via WhatsApp (71) 9.9982-6764 para que possamos inserir o crédito ou retirar imediatamente.

Difícil andar por Salvador e não dá de cara com uma delas. Quer seja nas ruas do Centro Histórico, nas praias, na porta das igrejas mais tradicionais, ou mesmo nas áreas dos centros comerciais e mesmo empresariais, lá estão elas, com tabuleiros, vestidos de pano da costa branco com rendas multicoloridas, torso, patuás, e uma infinidade de contas. Nas cores diversas, elas são as representações da ancestralidade herdada dos antigos escravos africanos e expressam o sincretismo religioso que se faz presente em todos os lugares. Mas é na gastronomia que parecem fadas mágicas diante de um tacho de azeite fervendo, onde fritam o acarajé e do tabuleiro onde tem outras iguarias incríveis.

Consideradas patrimônio cultural e imaterial do Brasil, as baianas do acarajé são o símbolo de Salvador e da Bahia, e são conhecidas em todo o Brasil, desde a figura central nos eventos turísticos, mas também alas fundamentais nos desfiles de escolas de sambas de quase todos os estados, durante o carnaval. Cantadas em prosa e versos pelos maiores sambistas, elas são os verdadeiros cartões postais para quem visita Salvador em qualquer época do ano. E por isso mesmo, a própria representação da sua história.

Não importa em que lugar de Salvador você esteja ou vai estar. Sempre haverá uma baiana do acarajé perto de você. No seu tabuleiro, além do famoso acarajé e do seu co-irmão, o abará, antiga comida dos orixás e hoje a principal iguaria do turismo baiano, encontra-se também os bolinhos de estudantes, na verdade bolinhos de tapioca fritos com leite de coco e polvilhados com açúcar. As cocadas preta e branca, com muito coco e até misturadas com amendoins em caroço, e até tira-gostos, como os peixes fritos no azeite de dendê.

É comum a baiana de acarajé ser a primeira pessoa que um visitante tem contato ao chegar. Ao desembarcar no Aeroporto, no terminal náutico ou mesmo no terminal rodoviário, o visitante é recebido por uma baiana, que o recepciona com as famosas “fitinhas do Senhor do Bonfim”. E se ele olhar para os lados, vai ver uma delas com um tabuleiro de acarajé e abará. São elas que apresentam a cidade, os costumes e os sabores de Salvador. As Baianas de Acarajé são memória histórica e afetiva da Bahia.

A atividade de produção e comércio da iguaria é predominantemente feminina, e encontra-se nos espaços públicos, principalmente praças, ruas, feiras da cidade e orla marítima, como também nas festas de largo e outras celebrações que marcam a cultura da cidade. A indumentária das baianas, característica dos ritos do candomblé, constitui também um forte elemento de identificação desse ofício, sendo composta por turbantes, panos e colares de conta que simbolizam a iniciação religiosa das baianas.

Em 4 de agosto de 2000, instituiu-se o registro do Ofício das Baianas de Acarajé como Patrimônio Cultural do Brasil, no Livro dos Saberes. Foi ato público de reconhecimento da importância do legado dos ancestrais africanos no processo histórico de formação de nossa sociedade e do valor patrimonial de complexo universal cultural. Isto é também expresso por meio do saber dos que mantêm vivo esse ofício. O registro tem sempre como referência a continuidade histórica do bem cultural e sua relevância para a memória, identidade e formação da sociedade brasileira.

Dia Nacional da Baiana de Acarajé é comemorado anualmente em 25 de novembro. A data homenageia a importância histórica e cultural da figura da baiana do acarajé, nome dado às mulheres que se dedicam à produção e venda dessa iguaria típica da Bahia. Rita Santos, uma das 12 coordenadoras nacionais da Associação das Baianas de Acarajé e que está à frente do Memorial das Baianas de Acarajé, explica:

Tem um conjunto de sentidos atribuídos pela sociedade local e nacional a esse elemento simbólico constituinte da identidade baiana. A feitura das comidas de baiana constitui uma prática cultural da longa continuidade histórica, reiterada no cotidiano dos ritos do candomblé e constituinte de forte fator de identidade na cidade de Salvador. Tudo isso faz da baiana de acarajé um bem cultural.

Um espaço só delas – O Memorial das Baianas de Acarajé é um espaço dedicado à história e à tradição do ofício das baianas de acarajé. Contudo, essa compreensão memorial está também para além dessas paredes. Está nos largos e praças, nas festas populares, está na própria experiência de comer um acarajé, de sentar-se ao lado da baiana, de reconhecer o cheiro do azeite de dendê lá da outra esquina . O Memorial foi inaugurado no centro histórico de Salvador em junho de 2009. Como o nome sugere, o espaço é dedicado à tradição e história das mulheres que comercializam a comida típica da Bahia, feita com massa de feijão-fradinho e que leva pimenta, camarão seco, vatapá, caruru e salada.

O local, registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério da Cultura (Iphan/MinC) como Patrimônio Cultural do Brasil, conta com espaços expositivos e de documentação. O visitante encontra, por exemplo, adereços, artesanatos e alguns instrumentos gastronômicos utilizados por elas, uma maneira de salvaguardar o oficio, com a ideia de mostrar para a população e para os visitantes como é, como começou e até onde está indo a questão da profissão da baiana de acarajé, com fotos, objetos, indumentária e dois vídeos.

Memorial das Baianas de Acarajé

Endereço: Cruz Caída, Praça da Sé – Pelourinho, Salvador – BA, 40301-155
Funcionamento: de segunda a sábado, das 10h às 16h.
Telefone: (71) 3322-9674

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