Eparrei oyá!. Viva Santa Bárbara!. Na Bahia é assim. Tudo é sincrético, do religioso, à etnia e à cultura em si. Tudo se mistura e por isso mesmo torna a terra uma porção do Brasil única, onde as manifestações diversas se confundem e se fazem presentes na música, nas artes, na culinária e na própria história desse povo que é um misto de portugueses, índios, negros, asiáticos, quem têm suas religiões, costumes, sabores e linguajar próprio, mas que se juntam e fazem surgir essa terra de magia e encanto.
As duas saudações, no sincretismo religioso na Bahia, são feitas para a mesma divindade, Santa Bárbara, para os católicos, e Iansã para as religiões de matrizes africanas. E marcam o início do ciclo de festas populares na Bahia, em 04 de dezembro, com a santa e orixá rainha dos raios , trovões, ventos e tempestades, e sóp termina em fevereiro, com o carnaval.
É a época das procissões religiosas, das saudações em ioruba, o dialeto dos orixás, mas também de muito samba-de-roda, reggae, capoeira, flores e perfumes, sons de atabaques e do axé e, principalmente, no caso de Santa Barbara/Iansã, de muito caruru, uma comida de origem africana, feita à base de quiabo cortado, que costuma ser servido acompanhado de acarajé ou abará, de pedaços de carne, frango ou peixe, de camarões secos, de azeite de dendê e de pimenta.
Na festa de Santa Barbara, que ocorre no Centro Histórico, baianos e turistas têm direito não só de acompanhar a procissão que percorre a Baixa dos Sapateiros, tendo como ponto de encontro o Quartel do Corpo de Bombeiros, como também ver a mistura harmoniosa do sincretismo afro e católico se misturar nas cores vermelha e branca. E ao final, no Mercado de Santa Barbara, próxima à entrada para o Pelourinho, saborear o caruru.
O caruru na Bahia ganha um toque diferente das demais regiões do Brasil. Aqui, como em quase toda comida típica do estado, se adiciona o dendê e a pimenta. Esse costume foi trazido para o Brasil pelos africanos escravizados, constituindo hoje um prato típico da culinária baiana, bem como uma comida ritual do candomblé. O caruru típico da Bahia mistura as as culinárias do Daomé nagô, da Nigéria ioruba, e indígena da Bahia.
Conta a história que durante uma visita à África, no fim do século XVIII, o padre Vicente Ferreira Pires chamou de “caruru de galinha” a refeição em Daomé, feita com o uso do dendê como ingrediente. Originalmente, o caruru brasileiro era um prato tipicamente indígena, uma espécie de refogado de ervas que servia para acompanhar outro prato (carne ou peixe). A versão atual do caruru, no entanto, é mais africana que indígena, sendo feita com quiabo, pimenta-malagueta, camarão seco e azeite de dendê.
As divindades
Santa Bárbara nasceu na cidade de Nicomédia na região da Bitínia, onde hoje se localiza a cidade de Izmit, na Turquia, às margens do Mar de Mármara. Bárbara viveu no final do Século III e foi uma bela jovem, filha única de Dióscoro, um rico e nobre morador de Nicomédia. Dióscoro não queria deixar sua filha única viver no meio da sociedade corrupta daquele tempo. Por isso, decidiu fechá-la numa torre. Lá, ela era ensinada por tutores da confiança de seu pai.
Diz-se que Barbara costumava contemplar, do alto da torre ela estava encerrada, a natureza: as estações do ano, a chuva, o sol, a neve, o frio, o calor, as aves, os animais, etc. Tudo isso a fez questionar se aquilo era realmente criação dos “deuses”, como seus tutores e seu povo creditavam, ou se havia “alguém” muito mais inteligente e poderoso por trás da criação.
Iansã – É a senhora dos ventos e das tempestades. Ela é valente, tem um temperamento forte e independente. Nas lendas provenientes do candomblé, foi mulher de Ogum e depois de Xangô, seu verdadeiro amor. Xangô roubou-a de Ogum. O nome Iansã é um título que faz referência ao entardecer, Iansã pode ser traduzido como “a mãe do céu rosado” ou “a mãe do entardecer”. Na liturgia da umbanda, Iansã é senhora dos eguns, os espíritos dos mortos, menos cultuados no candomblé. Na umbanda, a guia de Iansã é de cor laranja (coral) e, no candomblé, é vermelha, mas podendo ser utilizado a guia de cor vermelha na umbanda. No candomblé, também é chamada de Oyá. Seu dia da semana é quarta-feira, seu numero é nove e sua saudação é Eparrei oya.