Os velhos sobrados, muitos de fachada portuguesa, guardam lembranças de uma era. Erguidos na encosta da velha Salvador, na sua parte alta, contemplam o mar que parece se curvar e lamber seus pés.
Nós estamos agora em Santo Antônio Além do Carmo, no entorno do Pelourinho. Contemplar um pôr do sol daqui é simplesmente fascinante.
O mar se esconde no azul infinito da Baía de Todos os Santos. Dependendo da época do ano, ele escolhe as encostas de Mar Grande ou a sempre bela Itaparica. As lanchas e escuna regressam embaladas por ondas que mais parecem ninar.
Mas antes de dizer adeus a mais um dia e deixar a lua iluminar a noite dos namorados, ele se esgueira por entre janelas e sacadas, com seus raios dourados.
Um privilégio para poucos, apenas para os que se dispõem a ir a esse pedaço de Salvador que parece ter parado no tempo.
Tem ar de cidadezinha do interior e nas noites de brisa amena, seus moradores colocam cadeiras na calçada para se entregar a uma boa prosa.
Um dos bairros mais antigos de Salvador, no prolongamento do Pelourinho, ele surgiu no século XVII, se estendendo do Largo da Cruz do Pascoal até o largo de Santo Antonio, onde há um antigo forte do Exército.
O termo Além do Carmo surgiu por causa das antigas portas que delimitavam a cidade do Salvador que, no primeiro século de existência precisava dessas fortificações e tinha uma entrada no Convento do Carmo.
Mesmo com todo o crescimento urbano, o bairro mantém a maior parte do seu casario histórico, com muitos dos sobrados transformados em pousadas e barzinhos, de onde se descortinam uma ampla visão da Baía de Todos os Santos.
Ali, nos finais de semana, há sempre apresentações artísticas e movimentação cultural no largo da Cruz do pascoal e na Ladeira do Convento do Carmo
Antigamente o bairro era considerado símbolo de modernidade e irreverência, tendo em sua memória ilustres residentes, como Gilberto Gil. Hoje mantém sua majestosa arquitetura e sua incrível vista para a Baía de Todos os Santos, incluindo a praça do Coreto, do Forte do Santo Antônio (que já foi cadeia, mas hoje é o Forte de Capoeira), e da Igreja de Santo Antônio com sua torre inacabada.
Diferente do Pelourinho, o Santo Antônio conserva naturalmente seus traços, como uma bela senhora que envelhece sem perder o charme e a elegância, sem recorrer a desastrosas plásticas e intervenções arquitetônicas que costumam descaracterizar a história.
Por isso, mesmo próximo ao centro, ainda preserva a beleza de antes, a tranquilidade de um bairro familiar e o turismo mais refinado.