Para quem já está em Salvador ou pretende chegar para passar boa parte do verão, é sempre bom a recomendação para que renove as energias físicas e espirituais para o caldeirão de festas as mais diversas. A cidade ganha ritmo já se preparando para o carnaval, em fevereiro. Por isso se prepare, pois vem aí a Lavagem do Bonfim, onde o sincretismo religioso se mistura com o profano, e dá uma prévia do que o Verão reserva para baianos e turistas.
A lavagem da Igreja teve início em 1773, quando os integrantes da “Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim” leigos faziam com que os escravos lavassem e ornamentassem a Igreja, como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim. Posteriormente, os adeptos do candomblé resolveram fazer a sua própria fe4sta, do lado de fora, no adro, com baianas tipicamente trajadas e usando água de cheiro para o ritual, que se repete há 247 anos.
Comemorado na segunda quinta-feira do ano (este ano será na terceira quinta-feira, dia 16), a tradicional lavagem das escadarias do Bonfim é considerada a segunda maior manifestação popular da Bahia, perdendo apenas para o Carnaval. Nesse dia, milhares de fiéis se reúnem na Cidade Baixa, em Salvador, para participar de missas e de uma das maiores caminhadas religiosas do estado, que ocorre entre a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio, e a Colina Sagrada, no Bonfim.
Este ano, moradores e turistas vão ter belas surpresas ao chegarem na Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. Houve uma grande restauração em toda a área da Colina Sagrada, o interior da igreja está sendo completamente restaurado, além da fachada, do gradil e da escadaria. O pátio da Colina também foi todo requalificado, garantindo uma festa ainda mais bonita. Além do mais, a devoção deve aumentar porque o trajeto do cortejo passa justamente em frente às Obras Sociais de Irmã Dulce, no Largo de Roma. Irmã Dulce foi canonizada pelo Vaticano e passou a ser a primeira santa brasileira, agora chamada de Santa Dulce dos Pobres.
Fé e sincretismo – O festejo começa em frente à Igreja da Conceição da Praia, ao lado do Elevador Larecda, onde acontece um Culto Ecumênico,a partir das oito horas. Os cortejos vão saindo um a um em direção à Igreja do Bonfim. Nosso Senhor do Bonfim é sincretizado com Oxalá. O cortejo das baianas sai por volta das 9h30, logo depois da missa ecumênica, muitas vão antes. Ao chegarem na Colina Sagrada, elas lavam a escadaria. E lá outra missa é celebrada no final da manhã
Depois, dá-se início a uma caminhada de aproximadamente 8km até a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Vários cortejos fazem o trajeto, inclusive o Afoxé Filhos de Gandhy. Eles não têm um horário certo para sair, então você tem duas opções: uma, é ficar ligado e ir andando com eles desde a Conceição da Praia, a outra, é encontrá-los pelo caminho.
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O Trajeto – O caminho é um verdadeiro passeio turístico, começando pela própria Igreja da Conceição da Praia, construída no século XVII, em estilo gótico, por determinação de Tomé de Souza. Logo passam por dois cartões postais, à direita o Elevador Lacerda (o elevador liga a Cidade Baixa à Cidade Alta) que carrega este nome em homenagem ao engenheiro que o construiu: Augusto Frederico de Lacerda, no século XIX. Do lado esquerdo está o famoso Mercado Modelo com suas quase 300 lojas que vendem artesanato e lembranças locais. Então a caminhada segue por toda a Av. Miguel Calmon.
Logo depois, na Av. Jequitaia, tem o Mercado do Ouro, construído no fim do século XIX. Ainda nesta avenida, tem o Museu du Ritmo, o Trapiche Barnabé, além do plano inclinado que liga a Cidade Baixa ao Santo Antônio Além do Carmo. Já no bairro da Calçada, a Feira de São Joaquim (uma das feiras populares mais icônicas da cidade) está à esquerda e à direita está a Igreja dos Órfãos de São Joaquim.
Mais à frente, no Largo da Calçada, está a estação de trem que liga a Cidade Baixa ao Subúrbio Ferroviário de Salvador e, alguns metros depois, no Largo de Roma, estão as Obras Sociais de Irmã Dulce. Agora você já está perto, falta apenas uma reta para a Colina Sagrada.
Sagrado e Profano – Durante todo o percurso você passa por barraquinhas de bebida e comida, feijoada nas casas das pessoas e no comércio, música para todo gosto, um vai e vem de gente. Vários grupos folclóricos fazem a caminhada, além dos tradicionais carrinhos de café que colocam caixas de som, disputando para ver quem está mais criativo e paramentado.
É bem comum haver festas fechadas como é o caso da Lavagem promovida por Carlinhos Brown, “Enxaguada do Bonfim”, que recebe artistas no Museu do Ritmo para boas apresentações. A música na verdade está em todo o canto, já que muitos cortejos saem com seus próprios micro trios, além de grupos de samba que saem tocando no chão. Muitas dessas pessoas vão para pagar promessas mas, para deixar tudo mais leve e descontraído, fazem festa em agradecimento.